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Mestre Pastinha

Registro de Nascimento do Mestre Pastinha

​​Vicente Ferreira Pastinha nasceu no dia em 5 de abril de 1889, na Rua do Tijolo em Salvador, Bahia. Foi um dos principais mestres de Capoeira da história.
 

Filho de um espanhol, José Señor Pastinha que se firmou na praça como comerciante  e de uma negra de Santo Amaro da Purificação, Eugênia Maria de Carvalho, lavadeira e vendedora de acarajé. Foi o caçula dos três filhos do casal.
 

Registro de Nascimento do Mestre Pastinha
 

Em 1895 começou seu estudo no Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, onde aprendeu as primeira letras, e dedicou-se à pintura, vindo mais tarde exercer a profissão.


Com 10 anos, em 1899 começou aprender a arte da capoeira com o africano Benedito, um preto natural de Angola, que morava próximo a sua residência na antiga Rua das Laranjeiras, n 26.

Toda vez que tinha uma folga na escola, ou que descansava o pincel, corria para junto do negro mestre para conhecer novos golpes, novas gingas e outros ritmos.


Mestre Pastinha, dizia não ter aprendido a capoeira em escola, mas "com a sorte". No documentário “Pastinha Uma Vida Pela Capoeira” ele conta como foi sua iniciação:

 

A minha vida de criança foi um pouquinho amarga.
Encontrei um rival. Um menino, que era rival meu, então nos entravamos em luta, travava luta. E eu apanhava! Levava a pior! E, na janela de uma casa, tinha um africano apreciando a minha luta com esse menino. Então quando eu acabava de brigar que eu passava o velho me chamava:

Meu filho vem cá!

Eu cheguei na janela, Ele então me disse:

Você não pode brigar com aquele menino! Aquele menino é mais, mais ativo do que você! Aquele menino é malandro! E você não pode brigar com aquele menino, você quer brigar com menino na raça mais não pode! O tempo que você vai pra casa empinar raia, você vem aqui pro meu cazuá!

Então...

Aceitei o convite do velho, aí pegava a me ensinar a capoeira:

Ginga pra aqui, ginga pra lá,
Ginga pra aqui, ginga pra lá,
E cai!
Levanta!

E quando ele viu que já estava em condições, pra corresponder o menino ele disse:

Você já dá pra corresponder o menino!

Então saí.
Quando eu vinha, a mãe dele viu que eu vinha passar, gritava:

Honorato! Ai vem seu camarada!

Menino “pucre” de dentro de casa o menino pulava na rua como satanás. Aí ele pegou a insistir e na hora que ele insistiu passou a mão. Eu saí de baixo. Ele tornou a passar a mão em mim eu sai de baixo ele disse:

Há você tá ativo é!?

Aí insistiu a terceira vez aí aqui, eu rebati a mão dele e aqui sentei los pés, ele recebeu, caiu! Tornei a sentar o pé nele, tornou a caí.

A mãe dele disse: Venha que você vai panhá!
 

VAI VER ELE PANHÁ AGORA!



 

 

 

 

Documentário: Pastinha! Uma Vida Pela Capoeira 1998 
Filmagem provavelmente feita antes de 1977 (ano de falecimento de M Noronha, também presente na filmagem).

 

Em outra entrevista no ano de 1967, no depoimento prestado no 'Museu da Imagem e do Som' o mestre disse:


"Ele costumava dizer:
não provoque menino, vai botando devagarinho ele sabedor do que você sabe (…). Na última vez que o menino me atacou fiz ele sabedor com um só golpe do que eu era capaz.
E acabou-se meu rival, o menino ficou até meu amigo de admiração e respeito."


​​​Mestre Pastinha conta em "O Globo" 12/12/1966:
 

– Naquela noite – conta Pastinha –, o pai de Honorato foi lá em sua casa dar queixa com o filho pela mão. O velho Pastinha limitou-se a dizer: "Eu já sabia das surras que seu filho dava no meu. Soube que Vicente estava aprendendo capoeira e gostei. O que posso fazer é mandar que o senhor mande seu filho aprender capoeira também."
 

– O pai de Honorato não acreditou e quis me ver. Meu pai mandou me chamar. O pai de Honorato me viu muito franzino, pediu licença ao meu velho, queria ver uma demonstração. Dei um rabo-de-arraia tão forte, que Honorato foi ao chão, sem sentidos. Os dois velhos ficaram amigos e nunca mais eu e Honorato brigamos.


Em 1902 Pastinha entra para e Escola de Aprendizes Marinheiros, onde passaria oito anos de sua vida. Seu salário era de 75 mil réis dos quais só recebia 30 e o restante o governo descontava. Desse dinheiro ele colocava 20 mil réis na Caixa Econômica e o que sobrava fazia suas farras aos domingos.

Ainda na Marinha teve seu primeiro contato com a música, aprendendo a tocar "trompa" tanto que chegou a integrar na bandinha da escola. Seu professor foi o Anacleto Vidal da Cunha pai do medico Eduardo Vidal da Cunha.

Também aprendeu a arte da esgrima, espada e navalha, assim como a tocar violão. Lá ele chegou a ensinar a arte da Capoeira aos seus colegas durante o tempo que passou (1902 a 1909) no largo da Conceição da Praia. Todos o chamavam de 110.

Em 1910, deu baixa na marinha, com 21 anos, foi trabalhar, o primeiro emprego que achou foi na imprensa, no Diário da Bahia. Foi trabalhar ali de ganhador. Levar gazeta para o correio, assinatura. Ganhava 1.600 réis. Dali saiu, e foi se empregar lá no correio, lá no comércio, de carregador também. Nesse tempo foi que resolveu a se dedicar à pintura e ao ensino da capoeira.

Sua primeira escola, abriu num salão que era sede de uma oficina de ciclistas, localizado no Mirante do Campo da Pólvora, cidade de Salvador.

Saindo do Campo da Pólvora, ensinou na rua Santa Izabel. Durante esse tempo foi que pegou Raimundo Aberre seu primeiro aluno que ficou com ele até da baixa. Raimundo, Zeca, João Fortunato, João Moleque, tudo isso, Virício. Os alunos todos eram trabalhador, operários.

 

"Fiz um bocado deles".
 

De Santa Izabel foi para o Largo do Cruzeiro, tinha 4 repúblicas de estudantes, homens que vinham pra Salvador se formar pela faculdade da Bahia e treinavam com ele. Depois foi parar no Cruzeiro do São Francisco, na rua, no meio do Terreiro.

Isso tudo ocorreu de 1910 até 1912/13, até quando abandonou a capoeira, e passou a ser funcionário da Santa Casa de Misericórdia.

De 1913 a 1941, Mestre Pastinha se afasta da capoeira devido à forte repressão da época que mantinha a sua prática na ilegalidade. Nesse tempo, mestre Pastinha que sempre desejou viver da sua arte, teve que trabalhar como, pintor, pedreiro, entregador de jornais, engraxate, na construção civil e até tomou conta de casa de jogos.

 

Em princípio de 1941 Mestre Pastinha é convidado pelo seu antigo aluno Aberrê, que era afilhado do mesmo padrinho seu, a voltar a pratica da capoeira. Ele sempre o convidava para tomar conta de uma roda como instrutor, mas, o Mestre Pastinha sempre o respondia que não, que tinha se afastado e não pretendia volta mais a esse esporte.
 

Então, em 23 de fevereiro de 1941 Aberre convida o Mestre Pastinha a ir assisti-lo jogar numa roda no bairro da Gengibirra, onde segundo o mestre, era um ponto de encontro dos maiores mestres de capoeira da Bahia. “Lá só havia mestre, não tinha alunos” – dizia Pastinha.

Aberrê disse que perguntaram quem tinha sido o seu mestre e ele dizendo o nome de Pastinha, mandaram chamá-lo, ao qual Aberrê imediatamente o fez. Ao chegar à roda, Pastinha foi apresentado para o mestre Amorzinho, um guarda civil que tomava conta da roda e ao apertar da mão disse:

 

“Há muito que o esperava para lhe entregar esta capoeira, para o senhor mestrar”.
 

Mestre Pastinha ainda tentou se esquivar mais o Mestre Antônio Maré, disse:


"Não há jeito, não, Pastinha, é você mesmo quem vai mestrar isso aqui".
 

Então Mestre Pastinha se torna o guardião do C.E.C.A, Centro Esportivo de Capoeira Angola, nome dado pelo Mestre Pastinha, que tinha como fundadores os bambas da Gengibirra:


"Amosinho, (o dono do grupo), Aberrêr, Antonio de Maré, Daniel Noronha, Onça Preta, Livino Diogo, Olampio, Zeir, Vitor H. U., Alemão filho de Maré, Domingo do Mlha, Beraldo Izaque dos Santos, Pinieu, Jose Chibata, Ricardo B. dos Santos".


Em fevereiro de 1944 há uma reorganização e em 23 de março do mesmo ano vão para o Centro Operário da Bahia, que também não deu certo.
 

Em 1949, num domingo Pastinha foi convidado por dois camaradas para ver um terreno na Fábrica de Sabonetes Sicool no Bigode, onde recebeu o apoio e auxilio dos moradores. O centro ali se instalou e foram feitas as primeiras camisas em preto e amarelo, cores inspiradas no Clube Atlético Ypiranga, clube muito querido pelo mestre e pelas classes sociais mais populares de Salvador. Tendo como primeiro Presidente o Snr. Athaydio Caldeira, o segundo, o Snr Arrelydio Caldeira.


Dizem que foi nessa época que o Mestre Pastinha, avaliando cada um dos seus alunos, fazia um desenho na camisa, conforme os seus movimentos mais característicos.








 

 

Grupo do Mestre Pastinha no Bigode, Matatu Pequeno 49/52.

Sobre a foto acima do grupo do Mestre Pastinha no Bigode podemos ter algumas considerações:

Vemos que a bateria, parece ser bem flexível, podendo apresentar um conjunto de instrumentos com:

-Três ou Dois Berimbaus;
-Um ou Dois Pandeiros;

-Reco-reco;

-"Agogô;" (não aparece na foto, mas fazia parte da orquestra da Capoeira Angola);

-Atabaque ("tambor pequeno") que segundo Mestre Pastinha não fazia parte da capoeira, mas, sim do candomblé, e sendo perguntado pelo seu aluno Boca Rica porque o mesmo colocava na roda, recebeu a resposta que era para enriquecer a bateria, para ficar mais cheia;
-E um possível palmeado da bateria.


Temos ainda dois tipos de uniformes um listrado e outro com um brasão no centro, típicos dos times de futebol da época (camisas que eram mais fáceis de serem adquiridas) interessante observar a camisa com o brasão que leva as letras C.E.A (seria Centro Esportivo Angola?).

 

Mestre Pastinha, além dos uniformes fez outras várias inovações e organizou a Capoeira Angola, que virou de inspiração para vários grupos posteriormente. Como por exemplo:

* Graduações - através de um sistema de carteirinhas, diplomas;
* Cargos para dinamizar a roda - Mestre de Campo, Mestre de Cantos, Mestre de Bateria, Mestres de Treinos, Arquivistas, Mestres Fiscal, Contramestre e Treinel;
* Formalizou a bateria - embora no processo de sua formação tenham sido introduzidos instrumentos que não se consolidaram como: a Castanholas e o Xequerê;
* Criou regras e retirou golpes que ele considerava ofensivos - como: golpes de pescoço, dedo nos olhos, cabeçada solta, cabeçada presa, meia lua baixa, Balão a coitado, rabo de arraia, Tesoura fechada, chibata de calcanhar, chibata de peito de pé, meia lua virada, duas meia lua num lugar só, pulo mortal, virada no corpo com presa de calcanhar, presa de cintura, Balão na boca da calça, golpes de joelho e nem truques;

Mestre Pastinha dizia que os principais golpes da Capoeira Angola era:

* Cabeçada;
* Rasteira;
* Rabo de Arraia;
* Chapa de Frente;
* Chapa de Costas;
* Meia Lua;
* Cutilada de Mão;

 

Usava vários toques de berimbau em sua escola dentre os quais:
 

* Angola;
* São Bento Grande;
* São Bento Pequeno;
* Santa Maria;
* Cavalaria;
* Amazonas;
* Iuna;

 

Nesse período do final dos anos 40 e inicio dos anos 50 temos a aparição do Mestre Gato Preto como Mestre de Bateria do Mestre Pastinha, pois era um grande tocador de berimbau. E a chegada do Mestre João Pequeno a turma de Pastinha que já recebe de cara o cargo de Treinel.

O Professor Alceu Maynard Araujo, folclorista, viajou pelo Nordeste em 1951/53 colecionando material por programa Veja o Brasil. E precisamente em 1952 foi feita uma filmagem com a turma do Mestre Pastinha. Nesse tempo o CECA estava localizado lá em Brotas, esquina do Matatu, pouco antes do fim de linha do bonde.








 

Serie: Veja o Brasil - Bahia, Capoeira Angola

 

​Interessante notar nesse vídeo a presença do Xequerê compondo a bateria do Mestre Pastinha, além que durante o jogo a presença do "Balão" (Tombo da Ladeira).

 

Em 1953 João Grande levado por João Pequeno começa a treinar com Mestre Pastinha.

Em maio de 1955 ao sair de Brotas, o Mestre Pastinha instalou-se provisoriamente no Pelourinho n° 19. Transformando sua academia em uma casa de show, sempre tendo um espetáculo para mostrar aos turistas que viam conhecer e prestigiar a Capoeira Angola. E a partir daí também começa a fazer varias apresentações por todo o Brasil.




 

 

Cartão de Visita do Mestre Pastinha

Dentro shows de capoeira que o Mestre Pastinha aparentava em sua academia, também tinha apresentações folclóricas, como o Maculelê e o Samba de Roda, que segundo Mestre BOca Rica era sempre ao final da roda, dizia que "o capoeirista tem que aprender a sambar, tem que sambar!".

Em 1959 Mestre Gildo Alfinete ingressa no Centro Esportivo de Capoeira Angola.

No inicio da década de 60, mais precisamente em 20 de dezembro de 1960 ele desenvolve seus manuscritos:  C.E.C.A - Quando as Pernas Fazem Mizerêr (metafísica e prática da capoeira).





 

 

C.E.C.A - Vicente Pastinha - Quando as Pernas Fazem Mizerêr

 

Os manuscritos constam das seguintes partes:

I Parte
a) C.E.C.A. Histórico e Alto de Academia de Capoeira Angola;
b) Fundação da C.E.C.A;
c) Pensamentos;


II Parte
Desenhos;

 

Em 1963 Mestre Pastinha deu aulas a umas meninas do Conjunto Folclórico VIVA BAHIA a pedido da Etnomusicologa Emília Biancardi. Grupo esse que contou com a participação de Mestre João Grande em suas apresentações.

Em 15 de maio 1963 foi gravado com seu grupo pela TV Fancesa. Programa Les Coulisses de l'Exploit. Direção de Henri Carrier que ficou conhecido como:  La capoeira - ina.fr.





 



 

La Capoeira - ina.fr

Em 1964 lança seu livro: Mestre Pastinha - Capoeira Angola.








 

Mestre Pastinha - Capoeira Angola (1° e 2° Edição)

Em 16 de abril, 1966 foi um dos representantes brasileiros junto com seus alunos (Gato Preto, Camafeu de Oxóssi, Roberto Satanás, Gildo Alfinete e João Grande) a ir ao Festival Mundial das Artes Negras em Dakar, na África.








 

Viagem a Dakar - África (16 Abril 1966)
De baixo pra cima: Camafeu de Oxossi; Roberto Satanás; Gildo Alfinete; João Grande; Gato Preto; Mestre Pastinha

 

Nessa viagem para a África o Mestre Pastinha teve uma trombose que afetou-lhe as vistas. Mesmo assim, Mestre Pastinha participava de shows, apresentando-se tocando atabaque.

 

Apesar de ser um grande mestre, ter feito tanto pela capoeira, o Mestre Pastinha viveu uma vida de privações e pobreza, e ainda pra piorar sua situação sofreu essa deficiência visual que o acompanhou até a sua morte.

O jornal o Globo (12/12/1969) fez uma matéria com o Mestre Pastinha que constava: 

Agora, aos 77 anos, não luta mais para exibição; aposenta-se, embora prometa que voltará, que o enfarte que teve foi apenas "uma nuvem que passou nos olhos e tudo vai melhorar". Ainda vai diáriamente ao Pelourinho, ver funcionar a sua Academia, que êle quer com letras maiúsculas – escola de capoeira e ponto de turismo obrigatório de quem visita a Bahia. Assiste às aulas que são ministradas por um ex-aluno, dos bons, diz êle, mas que os novos não querem aceitar como substituto de Pastinha, já que capoeirista igual a êle não há.

Em 1969 o Mestre Pastinha junto com seu grupo grava um LP de Capoeira Angola, pela gravadora Philips, gravado no Teatro Castro Alves e intitulado:
 

"Capoeira Angola - Mestre Pastinha e sua academia"
 

Esse Lp ainda ganha uma segunda edição com uma mudança de capa.

Com a chegada das revistas de capoeira, e a aparição dos CDs, o LP do Mestre Pastinha ganham uma nova edição, agora em CD, uma edição especial remasterizado digitalmente pelo Praticando Capoeira, e recebe o título:

 

"Pastinha Eternamente"





 

LP's e CD do Mestre Pastinha

 

Outra coisa interessante de se constatar dessa gravação do Mestre Pastinha é:


1- Assim como as gravações antigas (como a do Mestre Waldemar, Traíra) após a passagem da "Louvação" para o "Corrido" se da a ativação do ritmo;

2- A formação da bateria da gravação segundo informações consta de:
-Dois Berimbaus;
-Dois Pandeiros;
-Agogô;
-Reco-reco

-Pequeno Tambor;

3- Dos alunos do Mestre Pastinha que estão participando da gravação estão:
-Mestre Pastinha (Canto);
-Waldomiro Malvadeza (Canto);
-Cobrinha (Canto);
-Raimundo Pequeno "Natividade";

-Zé Lito;

-Branquinho;
-João Grande (Reco-reco);

 

4- Nessa gravação só tinha dois berimbaus, e um deles era o Berimbau MÉDIO e o outro era um VIOLA... NÃO TINHA berimbau GUNGA nessa gravação;

5- O Lp/CD continha 5 faixas com músicas do cancioneiro popular da Capoeira Angola, assim como depoimentos do Mestre Pastinha:


1-Maior é Deus / Bahia, Nossa Bahia / Ei, Dona Alice, Não Me Pegue Não / Canarinho Da Alemanha / Valha-me Deus, Senhor São Bento;
2-Eu Já Vivo Enjoado / Quebra Gereba Quebra/ Dona Maria, O Que Vende Ai? / Lapinha;

3-B-A-BÁ do Berimbau / Ai, ai, Aidê / Xô, Xô, Meu Canário / La-Lain-Lai-Lai;

4-Eu Vou Ler o Meu ABC / Vou-me Embora Pra São Paulo / A Manteiga Derramou / A Canoa Virou, Marinheiro / Adeus... Adeus / Quem Vem Lá / Dá, Dá, Dá no Nêgo / Pega Esse Nêgo, Derruba No Chão;

5-Eu Nasci Pra Capoeira / Eu Estava em Casa / Tabaréu Que Vem do Sertão / Este Gungo é Meu / Adão... Adão... / Tão Dormindo... Tão Sonhando / Abalou Cajueiro;

 

"Click aqui e veja a as letras das músicas"


No começo do ano de 1971 o Mestre Suassuna vendo a situação do Mestre Pastinha, resolve fazer uma mobilização e trazer o Mestre Pastinha para fazer tratamento em São Paulo.

Nesse mesmo ano, já aos oitenta e dois anos de idade, Pastinha já quase cego por causa da catarata, depois de 20 anos com sua sede no Pelourinho, é obrigado pela prefeitura a se retirar do casarão, que entraria em reformas, com a promessa de que assim que estivesse pronto poderia voltar.

O jornal "O Globo" 16 de junho 1971 faz uma matéria:

SALVADOR (O GLOBO) - O Pelourinho, a casa de Mestre Pastinha, o mais famoso capoeirista do Brasil, o introdutor da capoeira como esporte amador e o criador da primeira academia dessa espécie de luta de defesa pessoal, vai ser reformada e transformada em atração turística.

O Prefeito Cleriston de Andrade declarou que Mestre Pastinha não sairá do Pelourinho: se não permanecer na mesma casa, vai ganhar outra, pois "sua capoeira tornou-se um patrimônio não só da Bahia, mas, também, do Brasil".

Velho, quase cego, Mestre Pastinha, não perdeu, porém, as esperanças de concretizar o grande sonho de sua vida: ver organizado um campeonato nacional e outro internacional de capoeira. Com saudades, êle lembra o tempo em que preparava estudantes de faculdade na sua arte. Muitas das vêzes, os seus alunos tinham de correr para a escola, a fim de não perder as aulas universitárias. Entre os seus muitos alunos - a maioria dos quais nem se lembra do velho mestre - destaca-se o Governador Antônio Carlos Magalhães, que, quando prefeito, assegurou-lhe uma pensão vitalícia.

Mestre Pastinha teve então que se mudar. Foi morar na Rua Alfredo Brito n° 14 no Pelourinho, em um quarto escuro, úmido e sem janelas. Único lugar que dava para pagar com o mísero salário que recebia da prefeitura, já que não podia contar mais com o dinheiro das aulas. Ainda na mudança, foram perdidos muitos móveis, quadros que o mestre pintava e fotografias, que juntos hoje, constituiriam um grande acervo cultural da nossa história.

Para piorar o prédio foi doado para o Patrimônio Histórico da Fundação do Pelourinho que posteriormente o vendeu para o SENAC que transformou o prédio em um restaurante. Este foi um dos maiores absurdos praticados contra a nossa cultura. Mestre Pastinha foi usado, enganado e abandonado.

Em 1979, ajudado por amigos como Vivaldo da Costa Lima, a cidade concedeu a Mestre Pastinha um espaço na Rua Gregório de Matos para reabrir sua escola na Ladeira do Ferrão perto de sua velha academia. O novo espaço era dirigida por sua mulher e seus alunos João Pequeno, João Grande e Ângelo Romano deram aulas, enquanto Pastinha sentava numa cadeira, corrigindo alguns alunos pelo som quando alguém caiu no chão da academia ou dando palestras aos discípulos e visitantes sobre "fundamentos" de capoeira Angola. Os visitantes repararam porém que sua nova escola não chegou no nível anterior.

Após a mudança e a perda de sua academia, Pastinha entra em uma profunda depressão e em 12 de novembro 1979 com 90 anos totalmente cego por causa de glaucoma e catarata fica internado no Hospital dos Servidores Públicos da Prefeitura de Salvador.

Após esse período foi enviado para o abrigo para idosos Dom Pedro II (fevereiro, 1981), onde permaneceu até a sua morte. Mestre Pastinha morreu cego, quase paralítico e abandonado.

 
Numa sexta-feira 13 de novembro de 1981, aos 92 anos, morre o Mestre Pastinha. Foi enterrado no mesmo dia, no Cemitério do Campo Santo e seu amigo Caribé pagou o funeral. Como a rádio e televisão não ouviram sobre a morte dele, logo, só cerca de 40 pessoas atenderam o funeral: os velhos do Abrigo, alguns parentes, seus alunos e três mestres de capoeira Regional. A cidade de Salvador foi representado pelo Secretário de Saúde. Berimbau foi tocado dentro do cemitério como uma última homenagem e colocado na caixão de Mestre Pastinha. O menino fraco e magrinho que conquistou o respeito e admiração do mais forte.

 

Quando ele morreu, mandaram um caixão de indigente. De indigente! Eu devolvi, cheguei na decorativa, tomei um caixão (que ele não merecia aquele caixão) e sentei no tabuleiro, paguei todo. Graças a Deus eu vendia acarajé. Isto que pagava a funerária.

Maria Romélia (mulher de M Pastinha) no filme Pastinha! Uma vida pela capoeira, 1998

Texto: Pesquisa do Mestre Salgado – CDO Sergipe

 

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​Grupo do Mestre Pastinha no Bigode, Matatu Pequeno 49/52
​C.E.C.A - Vicente Pastinha - Quando as Pernas Fazem Mizerêr
De baixo pra cima: Camafeu de Oxossi; Roberto Satanás; Gildo Alfinete; João Grande; Gato Preto; Mestre Pastinha
Mestre Pastinha - Capoeira Angola (1° e 2° Edição)
LP's e CD do Mestre Pastinha
Cartão de Visita do Mestre Pastinha
Fontes:

PASTINHA, Vicente Ferreira. Capoeira Angola. Salvador, BA. 1964
PASTINHA, Vicente Ferreira. C.E.C.A – Quando as pernas fazem miserêr (metafisica e prática da capoeira). Manuscrito. Salvador, s.d.
REGO, Waldeloir. Capoeira Angola: ensaio sócio-etnográfico. Salvador. Ed. Itapuã, 1968.
ABIB, Pedro. Mestres e Capoeiras famosos da Bahia. Salvador, BA. EDUFBA, 2013.
COUTINHO, Daniel. ABC da Capoeira Angola: os manuscritos do Mestre Noronha. Brasília, DF: DEFER, 1993.
DECANIO FILHO, Ângelo. A Herança de Mestre Pastinha. Salvador, BA. Ed.São Salomão, 1996-a.
MAGALHÃES, Paulo Andrade. Jogo de Discurso: a disputa por hegemonia na tradição da capoeira angla baiana. Salvador, BA. EDUFBA, 2011.
LÜHNING, Angela e PAMFILIO, Ricardo. A Capoeira em Salvador nas fotos de Pierre Verger, BA. Fundação Pierre Verger, 2009.
JORNAL DO COMMERCIO em 05 de julho 1964.

JORNAL O GLOBO em 12 de dezembro 1966 -- 16 de junho 1971.
DEPOIMENTO prestado no 'Museu da Imagem e do Som' 1967.
DOCUMENTÁRIO, Pastinha Uma Vida Pela Capoeira, 1998.

DOCUMENTÁRIO, Musicalização na Capoeira - Mestre Negoativo.

DOCUMENTÁRIO, A Musicalidade da Capoeira, por Mestre Boca Rica.
CD, Mestre Pastinha Eternamente.
Mestre Pastinha, Entrevista a Helinä Rautavaara, 1964.
Mestre Moraes, Evento do Grupo Mukambo Capoeira Angola 10/04/2016. Aracaju-SE.

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