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Mestre Bimba

No dia 23 de novembro de 1900 nascia Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba. Nasceu na Periferia do bairro de Engenho Velho de Brotas, antiga Freguesia de Brotas, em Salvador, Bahia.
 

Filho de Luiz Cândido Machado, caboclo natural de Feira de Santana, famoso campeão baiano de Batuque “a luta braba”, seu nome já era citado nas festas de largo, e de Dona Maria Martinha do Bomfim.

 

Recebeu na pia batismal o apelido BIMBA, em decorrência de uma aposta feita entre a sua mãe e a parteira. Dona Martinha sua mãe, teve 25 filhos, ele foi o último. Quando nasceu era muito gordo. Sua mãe e a parteira que o aparou fizeram uma aposta. Sua mãe dizia ser uma menina e a parteira dizia ser um menino, quando ele nasce à parteira abriu as pernas dele (pois era muito gordo) e exclama: “Olhe a bimbinha dele!”.

 

Mestre Bimba iniciou a capoeira aos 12 anos de idade, na Estrada das Boiadas, hoje, Bairro da Liberdade. Seu mestre foi o Africano Nozinho Bento, o Bentinho, Capitão da Companhia de Navegação Baiana, do qual Bimba falava com admiração, reportando-se à extraordinária habilidade no capoeirar e salientando a espantosa capacidade de executar o salto mortal na boca de um caixote de cebola.

 

Treinou por 4 anos e o método era a capoeira antiga. Mestre Bimba começou a ensinar capoeira em 1918, no Engenho Velho de Brotas. O nome da Academia era “Clube União em Apuros”. O primeiro aluno foi “Oscar Bozó”, mas outros famosos existiram: Siríaco Pequeno, Ovidio, Três Pedaços, João Qualquer Hora, Funga-Funga, Paulo Malvadeza entre outros. Esta mesma capoeira ele ensinou por 10 anos.

 

Aos 14 anos, Bimba passou a se interessar por outra manifestação afro-brasileira, ingressando no Candomblé do Senhor Vidal, um terreiro da nação Ketu, que funcionava no Engenho Velho de Brotas. Aos 20 anos, determinado, tornou-se ogã, título que é instituído àquelas pessoas que se destacam e se mostram capazes de prestar relevantes serviços à instituição, desde atribuições sociais até religiosas.

 

Devido a alguns desentendimentos, desligou-se do terreiro, desistindo assim de ocupar as funções exigidas pelo candomblé, passando a se dedicar exclusivamente à capoeira, não deixando, porém, de cumprir suas obrigações junto a Xangô.

 

Bimba foi carvoeiro, doqueiro, trapicheiro, carpinteiro, mas, principalmente, CAPOEIRISTAS. Quando trabalhando na estiva, por volta de 1918, dizia que carregava peso de 120 quilos.

 

Mestre Bimba começou a senti que a capoeira que aprendera estava perdendo suas características de luta, estava se folclorizando, perdendo sua qualidade como luta. Enquanto praticava e estudava a capoeira que depois foi denominada Angola, foi inventando e aperfeiçoando novos golpes. Surgiu então a CAPOEIRA REGIONAL.

 

Mestre Bimba dizia:


“EM 1928 EU CRIEI, COMPLETA, A REGIONAL, QUE É O BATUQUE MISTURADO COM A ANGOLA, COM MAIS GOLPES, UMA VERDADEIRA LUTA, BOA PARA O FÍSICO E PARA A MENTE”.
 

Ele deu esse nome REGIONAL por ser uma “Capoeira Da Região Da Bahia”, Capoeira Soteropolitana.

 

Como a capoeira estava inserida no código penal não se podia fazer nenhum tipo de demonstração nas ruas ou em locais fechado. Mas o Mestre Bimba pagava uma quantia a policia para poder dar aula durante uma hora e assim findo o horário, se estivessem ainda lá, ela chegava quebrando tudo e batendo em todo mundo.

 

Em 1932 Mestre Bimba conheceu o estudante cearense chamado Sisnado, que logo se tornaria seu aluno, o primeiro aluno branco do Mestre Bimba. Sisnado o encontrou trabalhando de carvoeiro dentro de um buraco todo sujo de carvão.

 

Sisnando entra então em um diálogo com Mestre Bimba:

- É você que é o Mestre Bimba?
- Sou e daí?
- É que eu gostaria de aprender Capoeira.
- Não vai dar certo não, você é branco, tem pele muito fina e não vai aguentar.

 

Sisnando então explicou que já tinha praticado outras lutas, mas queria aprender a capoeira. Mestre Bimba disse que se ele passasse no “teste de admissão” ... aguentasse um “Colar de Força” por três minutos eles estaria dentro. E Sisnando aguentou!!!
 

E assim a Capoeira entrou para o meio universitário, sendo sua academia na Roça do Lobo, frequentada por vários estudantes.  Sisnando quem levou todos.

 

Ainda nesse ano fundou sua primeira academia no bairro do Engenho Velho de Brotas.

Mestre Bimba consegue registrar em 1937 sua Escola de Capoeira na Secretaria de Educação, Saúde e Assistência Publica pelo Inspetor Técnico Dr. Clemente Guimarães.

 

Como a capoeira não era bem vista aos olhos da sociedade, Mestre Bimba resolveu registrá-la com o nome de Centro de Cultura Física Regional (C.C.F.R).

 

A Academia do Mestre Bimba foi a 5° Academia do Brasil (1932), sendo a 1° uma de Jiu-Jitsu no Pará (1914), a 2° uma de Halterofilismo e Culturismo no Rio  de Janeiro (1925), a 3° Balé Clássico no Rio de Janeiro (1925) e a 4° de Jiu-jitsu no Rio de Janeiro (1927).

 

Mestre Bimba querendo mostrar a eficácia de sua criação, lança vários desafios nos jornais para lutadores de qualquer outra arte marcial e sobe nos ringues para defender a sua capoeira saindo vencedor em todas as suas lutas, recebendo até o apelido de “Três Pancadas” pois era o máximo que seus adversários aguentavam.

 

Sua luta estava tão afamada e tão eficaz final da década de 30 para início dos anos 40, ele ensinou capoeira no Quartel do Centro de Preparação de Oficiais das Reserva (CPOR), devido a influência e participação do seu aluno Onça Tigre.

 

No dia 21 de dezembro de 1940, Lorenzo Turner grava com Mestre Bimba e um grupo de pessoas, homens e mulheres, que o acompanham com pandeiro e o coro. Um locutor em tom radiofônico introduz as tomadas. Tal presença, nos sugere que essa seção teria ocorrido em um dos estúdios da Rádio Sociedade.

 

Entre 1941/45 devido a dificuldade em aquisição das camisas listadas, camisa usada nas formatura no tempo (calça branca, camisa listada azul e branca e sapato de tênis branco) que eram vendidas em lotes de 11 jogadores, alguns reservas e goleiros, sem opção de escolha de tamanho por serem usadas pelos times de futebol, Dr. Decanio e os seus companheiros da época resolveram ir a procurar uma solução menos penosa. Mestre Bimba, atendendo a sugestão que fora feita por Dr. Decanio, decidiu adotar a camisa de malha de algodão branca para os formandos, conservando a antiga camisa listada azul e branca como distintivo para o mestre. Sendo ainda que para completar o uniforme Dr. Decanio desenha um escudo com o signo de São Salomão (Estrela de 6 pontas) para melhorar o efeito estético, acrescentando na área central, um pequeno círculo contendo a letra R, abreviação de Regional.

 

 

Sua segunda academia foi instalada no Terreiro de Jesus – Ruas das Laranjeiras, Pelourinho em 1942.

 

Mestre Bimba conseguiu mais outro grande feito com a capoeira, se apresentou para o presidente Getúlio Vargas, no Palácio da Aclamação em Salvador em 23 de julho de 1953. Ao apertar-lhe a mão o Presidente disse que:

“A Capoeira é o único esporte verdadeiramente nacional.


Em 1954 Mestre Bimba participa do filme “Vadiação” dirigido por Alexandre Robatto Filho. Mestre Bimba, e seu conjunto participa com os toques e o cancioneiro da capoeira na  gravação. O som não faz sincronia com a imagem pois o jogo é dado pela turma do Mestre Waldemar enquanto o canto é feito pela turma do Mestre Bimba.


 

 

 

Na década de 60 gravou dois discos, um que tinha em conjunto um livro denominado de “Curso de Capoeira Regional - Mestre Bimba” e LP do mesmo nome. O disco trazia toques de berimbau tocado por ele além de duas faixas com ele cantando quadras e corridos da capoeira. O livreto ilustrado, trazia lições de treinamentos da capoeira regional, golpes, sequências. Esse disco depois foi regravado com os mesmos toques, sendo que alguns em levadas diferentes e também outras quadras e corridos. Os toques e cantos registrados no  disco:

 

1. São Bento Grande;

2. Cavalaria;

3. Banguela;

4. Santa Maria;

5. Iuna;
6. Idalina;

7. Amazonas;
8. Quadras;

9. Corridos;

Além de toques “escondidos” durante a execução do cancioneiro.
 

O outro disco gravado foi de Samba de Roda e Candomblé que teve como título: “Sambas de Roda e Candomblés da Bahia” e mais tarde regravado só o samba de roda com o título “Le-Le ô a Turma de Bimba Chegou – Mestre Bimba e Coro”.

Mestre Bimba foi um grande show-man, seus alunos, junto com suas pastoras (mulheres que participavam dos shows), se apresentaram em diversos estados no Brasil com apresentações de Capoeira, Batuque, Samba de Roda, Samba Duro, Maculelê, Puxada de Rede e tantas outras coisas. Assim como década de 60 o Mestre Bimba levou sua turma para uma demonstração de Capoeira e Samba de Roda em Aracaju/SE.

Seu aluno, o Mestre Jair Moura, produziu em 1968 o filme “Dança de Guerra” onde o Mestre Bimba participou cantando, tocando e seus alunos fizeram demonstrações de jogo de capoeira e samba de roda.

 

Seu aluno Airton Onça, levou o Mestre Bimba para São Paulo para receber o título de Presidente de Honra da Associação de K-Poeira e nesse dia o Mestre Bimba reconheceu simbolicamente os Mestres paulistas como os Percursores da Capoeira em São Paulo: SUASSUNA, BRASÍLIA, JOEL, GILVAN, LIMÃO, SILVESTRE, PINATTI, ZÉ DE FREITAS E AIRTON ONÇA, o famoso “Grupo dos Nove”.

 

Em 1971 recebe um convite para ir a Goiânia/GO ser o Paraninfo da turma de alunos do seu aluno Oswaldo de Souza (Dinamite). Vai e fica empolgado com o tratamento recebido do povo e das autoridades locais. Com isso, depois de algumas conversas resolve se mudar para lá.

 

Em 23 de fevereiro de 1973, realizou a última formatura do Centro De Cultura Física Regional, chamavam da “Formatura do Adeus”. Nesta formatura o Mestre Vermelho 27 foi o orador, e os paraninfos foram dois a pedido do Mestre Bimba, que foram: Itapoan e Ezequiel.

 

Depois da formatura Mestre Bimba, que segundo ele por motivos financeiros, foi embora da Bahia, sob acusação de que os "Poderes Públicos" não teriam lhe dado o devido valor, e no ano seguinte a sua partida, no dia 05 de fevereiro de 1974, em Goiânia, Mestre Bimba veio a falecer vítima de um derrame cerebral aos 73 anos.

Mestre Bimba teve uma ampla família que formou com nove mulheres distintas. A primeira Maria dos Anjos que teve seu primeiro filho Manoel dos Reis Machado Filho (Crispim) e Edvaldo Rosa; Com Agripina Rodrigues Anunciação teve Aurino Rodrigues dos Reis. Com Anita Waldemira Santana teve Helenita Maria dos Reis e Creuza Maria dos Reis (Quelêu); Com Nair Lopes dos Santos teve Demerval Santos Machado (Formiga); Durvalina Lopes Machado (Biloca); Luis Lopes Machado (Luisinho) e Denise (Ienga); Com Alice Nascimento teve Vanderlei Bispo Nascimento (Lelê). Com Francisca dos Santos teve Alba Regina Machado da Silva; Com Berenice da Conceição Nascimento teve um filho adotivo Carlos Lage (Carlinhos), Manoel Nascimento Machado (Nenel) e Marinalva Nascimento Machado (Nalvinha ou a Rosa Rubra); Com Alice Maria da Cruz, adotou Maria Georgina Carvalho de Jesus.

  “O homem que elevou a capoeira de status, que tirou de baixo do pé do boi, como gastava de dizer, e a introduziu nos meios universitários e sociais de Salvador, que foi citado em enciclopédias e filmado por turistas do mundo todo!”

 

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1900* Alguns autores afirmam que Mestre Bimba tinha outra certidão de nascimento em que constava o ano de 1899. Esse fato é devido a que o registro só era feito  tempos depois do nascimento.

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Texto: Pesquisa do Mestre Salgado – CDO Sergipe

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LP Curso de Capoeira Regional - Mestre Bimba
Livreto Curso de Capoeira Regional - Mestre Bimba
1900
Fontes:

 

BIMBA, Metre. Curso de Capoeira Regional. Bahia, RC Discos/Fitas.
ALMEIDA, Raimundo Cesar Alves. A Saga Do Mestre Bimba. Salvador. Ed.  1994.
CAMPOS, Hélio. Capoeira Regional: A Escola Do Mestre Bimba. Salvador, Ed. EDUFBA, 2009.
DECANIO FILHO, Ângelo. A Herança de Mestre Bimba. Salvador, BA. Ed. São Salomão, 1996.
MOURA, Jair. Mestre Bimba – Uma Vida Consagrada a Capoeiragem. Salvador, BA. Ed. JM Gráfica e Editora, 2016.
SOUZA, Walce. Menino, quem foi seu mestre? 2011.
PIRES, Wilson. Memórias do Capoeirista Maxixe: discípulo do Mestre Bimba, o criador da Capoeira Regional. Salvador, 2005.
REIS, Leonardo Abreu. Cantos de Capoeira: Fonogramas e Etnografias no Diálogo da Tradição. TESE, 2010.

NENEL, Mestre e SFOGGIA, Lia. Bimba, Um Século da Capoeira Regional. EDUFBA. Salvador, 2018.

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